Ode ao Prelúdio


A busca, o cansaço, a resposta e enfim a dúvida.
17/05/2010, 6:50 PM
Filed under: Durante a tarde surge, Pensando sobre

Faltavam notas para descrever as situações, as palavras não eram o bastante para aqueles sentimentos que me acompanhavam e por fim toda minha sensação não cabia mais em potes etiquetados. Resolvi então calar-me sobre as situações, sentir e dividir a sensação através de gestos, não dizer que poderia ser amor e mais que tudo tentar dar um tempo ao meu tempo, que já pedia férias a algum tempo.

Reescrevi meu final de semana sob uma tarde cinzenta de segunda feira, notando o quanto não preciso perguntar a amigos se eles estão bem só para mostrar que estou ali, porque se não estiverem eles compartilham sua dor comigo pois parecem saber que se eu tiver alguma felicidade sobrando ou até mesmo no limite, só pra mim, darei a eles e de forma contrária funciona do mesmo jeito.

A constante busca pelo preenchimento do vazio eterno é o que chamamos de novos relacionamentos, conhecemos novas pessoas e assim ganhamos novos amigos, companheiros de vida que duram o tempo que for necessário, e isso não quer dizer que amigos são descartáveis, é preciso dar espaço a novas pessoas sem fingir desconhecer o que já se foi passado. Alguns amigos duram para sempre de formas diferentes, esses são aqueles que quando perguntam “como vai?” eles realmente querem saber o que se passa na tua vida.

Engraçado, falar sobre “vazio eterno” é como se denominasse algo que não tem solução, quando na verdade a solução é diária, entre troca de novidades, a novidade é o que faz nossos caminhos parecerem outros quando na realidade é o mesmo, como o lance do gato e da Alice “se você não sabe aonde quer chegar, não importa o caminho que siga” é preciso saber o que quer, e quando não se sabe, é preciso saber que pelo menos quer querer algo se não, é só sentar e esperar o tempo passar, e para quem não quer nada o tempo parece sentar e esperar junto que algo mais aconteça, é como se congelasse ao teu lado te fazendo companhia, uma companhia que não preenche o vazio que também te acompanha.

Eu moro em frente a um colégio e estava vendo as crianças entrarem atrasadas quando a coordenadora gritou da porta “atrasados, já para a sala da diretora” pensei o quanto eu morria de medo disso, o quanto o tempo me parecia eterno quando criança e o quanto eu sentia vergonha de pecar com ele. Meus sentimentos pareciam inexistentes, eu apenas sentia e não tentava filosofar sobre eles. As vezes finjo que consigo entender as crianças e as vezes até acredito que consigo, o que é uma bobagem, pois quando crescemos apenas podemos guardar lembranças de uma fase que não volta e nunca mais será tão bem compreendida quanto por uma criança daquela idade vivendo a mesma situação, e olhe lá.

Quando crescemos, acreditamos estar tentando ser pessoas melhores, criando teorias e filosofando a vida quando na realidade só precisamos viver, fazer o bem e respeitar espaços, e pra isso é preciso primeiro se conhecer muito bem, não totalmente, mas bem o bastante pra saber seus limites. Talvez eu tenha me dedicado demais a me descobrir e agora já não saiba como agir com a sociedade, tenho pensamentos de um homem que sabe como ganhar dinheiro (e mesmo sabendo meu corpo e mente parecem não querer usar muito esse conhecimento), sabe como evitar o estresse e evita o bastante para manter-se achando que faz o bem, quando na realidade muitas vezes me anulo.

Sou igual a todos os seres humanos, se anulando de formas diferentes, procurando prazer e orgulho em formas também diferentes, no fundo o que preocupa o homem é estar vivendo da forma errada, quando a forma errada ou a forma certa ainda é imposta por uma sociedade que não sabe nem metade das leis que criou de olhos fechados. Vivemos no “confio em você e por isso voto” sem perceber que muitas vezes não podemos confiar nem em nós mesmos.

É preciso saber deixar tudo em seu lugar, sentimento é sentimento, palavra é palavra.. Quando tudo se acabar e talvez começar do zero novamente, qual será o ponto de partida? a gente vai saber como aprender a começar a andar ou simplesmente vai começar a andar e depois pensar como isso aconteceu?
Embora sejamos abençoados com o raciocínio, o que nos difere dos outros animais, é preciso também saber a pensar com o corpo, porque existem caminhos que não a razão nenhuma em seguir, mesmo assim seguimos e é o que completa o “vazio eterno” de tempos em tempos, a procura pelo amor, por Deus, está presente em nossas vidas mesmo que neguemos, assim como a resposta de todas nossas perguntas estarão sempre divididas em “eu” e “nós”.

“Na realidade”
“Na verdade”
“É preciso”
“mas/porém”

Toda certeza questionada deve tornar-se incerteza antes de concretizar-se novamente.

Danilo Tavares


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