Ode ao Prelúdio


Sem título
28/01/2020, 10:10 PM
Filed under: Durante a tarde surge, Uncategorized
Faz tanto tempo que não escrevo, pelo menos não como gostaria. Tenho que escrever tanto sobre tanta coisa que quando penso em escrever sobre o que quero acabo desistindo e dedicando esse tempo a viver o que talvez fosse o principal assunto a que me dedicaria a escrever:
 
As crianças crescendo,
Meu amor cada dia mais lindo,
Meu coração envelhecendo,
Meus cabelos brancos aparecendo,
Meu coração apertando de saudades de casa(com apenas 12 horas de viagem)…
 
O simples fato de descrever fatos já seria poesia vista da forma certa. Não que não haja caos nos dias mas a poesia tem essa incrível capacidade de transformar tragédia em beleza e quando a gente cresce e os boletos apertam mais nosso coração do que os versos de Neruda, as palavras perdem força e se não nos agarrarmos em histórias, verdadeiras e profundas nos perdemos em anotações de frases que batem o sino do ego, ressoam em nossa mente mas nunca farão morada em nosso peito… Daí, meus amigos, a poesia pode florear o caos que for, mas por falta de tempo e por pura experiência abrimos mão das rimas, versos, prosa e canções para uma respirada funda (entre uma segurada e outra para não explodir) e quando menos esperamos o gato nos pede carinho, o filho nos pede colo, a filha nos chama pra dançar e o nosso amor nos olha com aquele olhar que só ela sabe nos olhar. No fim largamos tudo (sem atrasar os boletos, porque juros ninguém merece) e dedicamos nossa vida a ser feliz e fazer feliz quem se colocar em nosso caminho.
 
O caos bateu em minha porta e eu (não) abri. Senhoras e senhores, eis a vida adulta. Escolhas.


Uma pena
20/08/2019, 6:32 PM
Filed under: Durante a tarde surge, vida

Lembro uma vez ler em uma prova na escola a descrição de informática como “informação automática” engraçado é que com o tempo e a evolução dos meios de comunicação fomos deixando o termo informática de lado. Aula de informática, curso de informática, informática informática informática… Substituímos a aula de caligrafia pela datilografia, a datilografia pela digitação e logo já não precisávamos ensinar ninguém mais a digitar, o digital era natural para toda uma geração. Natural também é a nossa sensação de que a informação está disponível de forma automática, basta acessar a internet, entrar em um site de notícias e BUUUM, lá está o que esperávamos. Quanto mais rápido recebemos algo, quanto menos tempo dedicamos a entender o que fazemos(e porque fazemos) mais chance temos de não raciocinar sobre o que estamos fazendo ou o que estamos consumindo. Sinto informar mas sua informação digital vem de uma mente analógica e essa também merece ser atualizada. Evoluir é mais do que consumir informação e sem empatia você se torna um transmissor irrelevante ao deixar de raciocinar sobre o que transmite.

Danilo Tavares



Mudar e apartar
29/06/2011, 5:35 PM
Filed under: Durante a tarde surge, Pensando sobre, vida

Não sei se você notou
Mas eu mudei a parede da sala
Não, não é a sala toda que mudou
Só pintei a parede

Da sala,
Só.

Nem vi quando você entrou
Não te esperava tão cedo
Que bom que chegou
Que bom!

Se achegue,
Cedo.

Eu não queria incomodar
Por isso te chamei aqui
Faz tempo que não te via
Engraçado recordar o caminho

Qualquer caminho,
É curto.

Tentei avisar antes
Mudei a parede pra você
Sei que a sala é minha
Mas essa parte é sua

Senta,
Vê TV.

Se não voltar
A parede tá ai
Eu sei que você viu
E eu também vi

Nossas memórias,
Diferentes versões.

Se não voltar
Se não enxergar
Te aviso
Além da parede

A porta aqui
também mudou.

Danilo Tavares



Mar em Mim
14/09/2010, 5:52 PM
Filed under: Durante a tarde surge

Se eu esperasse qualquer das chegadas, não seria eu.
Não nasci pra ser porto, sempre fui barco seguro
Mas como qualquer certeza,
Há possibilidade de uma falha,
E pra tudo há uma distância,
E eu como barco, sei ser da terra quando o mar não está pra mim.
Minha paciência já foi vista como covardia, como maldade,
Nunca como sobriedade ou algo semelhante,
Hoje sou barco no meio do mar,
Hoje tenho um outro barco a me acompanhar
Não sei se é meu bote salva vidas ou é mesmo barco
Se é meu resgate…
Sei que sou barco, não sou porto,
Não tenho cais e não há luz no meu farol.
Quem sabe navegar em mim, sabe chegar sem luz
Pois és a própria luz a iluminar meu mar.

Danilo Tavares



A busca, o cansaço, a resposta e enfim a dúvida.
17/05/2010, 6:50 PM
Filed under: Durante a tarde surge, Pensando sobre

Faltavam notas para descrever as situações, as palavras não eram o bastante para aqueles sentimentos que me acompanhavam e por fim toda minha sensação não cabia mais em potes etiquetados. Resolvi então calar-me sobre as situações, sentir e dividir a sensação através de gestos, não dizer que poderia ser amor e mais que tudo tentar dar um tempo ao meu tempo, que já pedia férias a algum tempo.

Reescrevi meu final de semana sob uma tarde cinzenta de segunda feira, notando o quanto não preciso perguntar a amigos se eles estão bem só para mostrar que estou ali, porque se não estiverem eles compartilham sua dor comigo pois parecem saber que se eu tiver alguma felicidade sobrando ou até mesmo no limite, só pra mim, darei a eles e de forma contrária funciona do mesmo jeito.

A constante busca pelo preenchimento do vazio eterno é o que chamamos de novos relacionamentos, conhecemos novas pessoas e assim ganhamos novos amigos, companheiros de vida que duram o tempo que for necessário, e isso não quer dizer que amigos são descartáveis, é preciso dar espaço a novas pessoas sem fingir desconhecer o que já se foi passado. Alguns amigos duram para sempre de formas diferentes, esses são aqueles que quando perguntam “como vai?” eles realmente querem saber o que se passa na tua vida.

Engraçado, falar sobre “vazio eterno” é como se denominasse algo que não tem solução, quando na verdade a solução é diária, entre troca de novidades, a novidade é o que faz nossos caminhos parecerem outros quando na realidade é o mesmo, como o lance do gato e da Alice “se você não sabe aonde quer chegar, não importa o caminho que siga” é preciso saber o que quer, e quando não se sabe, é preciso saber que pelo menos quer querer algo se não, é só sentar e esperar o tempo passar, e para quem não quer nada o tempo parece sentar e esperar junto que algo mais aconteça, é como se congelasse ao teu lado te fazendo companhia, uma companhia que não preenche o vazio que também te acompanha.

Eu moro em frente a um colégio e estava vendo as crianças entrarem atrasadas quando a coordenadora gritou da porta “atrasados, já para a sala da diretora” pensei o quanto eu morria de medo disso, o quanto o tempo me parecia eterno quando criança e o quanto eu sentia vergonha de pecar com ele. Meus sentimentos pareciam inexistentes, eu apenas sentia e não tentava filosofar sobre eles. As vezes finjo que consigo entender as crianças e as vezes até acredito que consigo, o que é uma bobagem, pois quando crescemos apenas podemos guardar lembranças de uma fase que não volta e nunca mais será tão bem compreendida quanto por uma criança daquela idade vivendo a mesma situação, e olhe lá.

Quando crescemos, acreditamos estar tentando ser pessoas melhores, criando teorias e filosofando a vida quando na realidade só precisamos viver, fazer o bem e respeitar espaços, e pra isso é preciso primeiro se conhecer muito bem, não totalmente, mas bem o bastante pra saber seus limites. Talvez eu tenha me dedicado demais a me descobrir e agora já não saiba como agir com a sociedade, tenho pensamentos de um homem que sabe como ganhar dinheiro (e mesmo sabendo meu corpo e mente parecem não querer usar muito esse conhecimento), sabe como evitar o estresse e evita o bastante para manter-se achando que faz o bem, quando na realidade muitas vezes me anulo.

Sou igual a todos os seres humanos, se anulando de formas diferentes, procurando prazer e orgulho em formas também diferentes, no fundo o que preocupa o homem é estar vivendo da forma errada, quando a forma errada ou a forma certa ainda é imposta por uma sociedade que não sabe nem metade das leis que criou de olhos fechados. Vivemos no “confio em você e por isso voto” sem perceber que muitas vezes não podemos confiar nem em nós mesmos.

É preciso saber deixar tudo em seu lugar, sentimento é sentimento, palavra é palavra.. Quando tudo se acabar e talvez começar do zero novamente, qual será o ponto de partida? a gente vai saber como aprender a começar a andar ou simplesmente vai começar a andar e depois pensar como isso aconteceu?
Embora sejamos abençoados com o raciocínio, o que nos difere dos outros animais, é preciso também saber a pensar com o corpo, porque existem caminhos que não a razão nenhuma em seguir, mesmo assim seguimos e é o que completa o “vazio eterno” de tempos em tempos, a procura pelo amor, por Deus, está presente em nossas vidas mesmo que neguemos, assim como a resposta de todas nossas perguntas estarão sempre divididas em “eu” e “nós”.

“Na realidade”
“Na verdade”
“É preciso”
“mas/porém”

Toda certeza questionada deve tornar-se incerteza antes de concretizar-se novamente.

Danilo Tavares



Até onde sentir é para os perdedores?

Todos sabemos que um ser humano apaixonado é um bobo quase sem limites, são cartas, são presentes, são gestos diários de gratidão pela nascente de felicidade que brota em quem se ama.
Mesmo que não seja correspondido o ser que deixa o amor fluir em seu corpo parece viver mais intensamente, isso acontece com todos os seus amores, sejam pessoas ou a imensa satisfação de fazer algo por mais de uma pessoa, por amigos talvez, até mesmo pelo seu trabalho, o único homem totalmente confiável é um homem apaixonado e correspondido pelos seus atos, além desse todos são dúvida, a palavra do ser humano já não vale mais faz tempo e a palavra hipocrisia ainda é tratada com repulsa quando na realidade deveria ser incorporada de vez nas características do ser humano.

Temos por natureza a vontade de crescer e mesmo que exista em algum momento da vida a vontade de voltar a ser pequeno, logo ela se perde quando lembramos que pra isso teríamos que passar por toda a transformação de criança para adulto de novo, talvez essa seja a parte mais difícil das nossas vidas, é quando não entendemos o mundo que estamos entrando e existe uma revolta que não sabemos da onde nasce, a maioria das pessoas passam por isso, outras poucas nem percebem as mudanças.

A intensidade do que sentimos na adolescência parece muito com a sensação que temos ao ficar apaixonado, o tempo parece rápido demais e tudo na vida parece durar o momento, o amanhã demora demais para chegar, nossas perguntas precisam ser respondidas ainda hoje. Acho que daí que vem as críticas aos bobos apaixonados, aos bobos que dizem que amam, quando você se acha adulto não tem muita paciência para a “aborrecência” dos adolescentes, quando tem é só por que eles tem tamanho para se aborrecerem e essa paciência não serve para os adultos como você.
Pessoas agindo como “criança” são realmente chatas mas, é preciso entender que o que sentem é novo, é tão novo quanto uma criança, não importa se você já viu aquela pessoa apaixonada antes e pensa que ela já deveria ter aprendido, ela vai agir como uma boba novamente, tenha certeza disso, vai te contar todas as dores de cotovelo se você der espaço e tudo mais. Isso acontece porque os apaixonados, amorosos e carinhosos sempre tem razão, fazem as coisas em nome de algo que não existe, algo que não se toca, que vem de dentro de si e não há como questionar esse sentimento assim como não se questiona nenhum outro, pois eles são e ponto.

É preciso dar valor aos bobos, eles são a pureza que você deseja pra ti, o apaixonado não trai a confiança de quem ama, é o que vocês querem pra vocês a vida toda e mesmo que não os correspondam é preciso tratar com atenção quando são sinceros com você pois, sinceridade nesse mundo é muito difícil de se encontrar e muitas vezes em alguns seres humanos só se encontra sinceridade nesse condição.
Aos que não tem coragem de assumir as coisas que sentem, esses também precisam de muito carinho e atenção pois podem transformar facilmente amor em ódio e passar de bobo a idiota. Sei o quanto é difícil lidar com essas situações mas é preciso aprender, é uma questão de evolução emocional para qualquer ser pensante.

A grande diferença do bobo para o idiota é que o bobo é o que vê o amor passar e se entristece, hora corre atrás pra conquistar, hora fica na sua e espera tudo aquilo acabar, já o idiota é o que paga com traição e discórdia, o idiota não sabe manter um bom relacionamento quando acaba algo sério, também não sabe terminar as coisas pois perde mais tempo pensando o quanto é BURRO pensar com o coração do que parar pra raciocinar que há muita verdade em não usar o cérebro as vezes.

Enfim, nunca é idiota sentir algo por alguém e mais do que isso, assumir, são poucas as pessoas que conseguem fazer isso, você só será uma pessoa idiota ao olhar dos outros até eles se apaixonarem também, mesmo o amor não correspondido será sempre muito mais bonito que a solidão, o amor é algo que brota diferente em cada ser humano, é como uma digital, quando correspondido vale lindas histórias e grandes aprendizados, quando não correspondidos são aprendizados maiores ainda. O ser humano nunca vai ter certeza se haverá outra chance na vida após morrer, até ontem éramos nada, hoje somos muito pra muita gente, você acreditando ou não é preciso viver assim, é preciso que haja sinceridade na tua vida pois pelo menos eu acredito que é melhor desatar os nós e refazer os laços enquanto podemos do que morrer sem ter pelo menos um dia na vida ter acordado sentindo-se leve o bastante sabendo que tentou no amor.

A palavra mais cheia de sentidos do mundo é também a única que não tem sentido nenhum de palavra e quando não há sentido, qualquer caminho te encaminha bem, seja pra frente ou andar pra trás, nem sempre a chegada é a que queremos mas andar de cabeça erguida faz com que a gente possa aproveitar toda paisagem das estradas.

E fechando os pontos, bobo é bobo, idiota é idiota.

Danilo Tavares